quarta-feira, 21 de abril de 2010

Opinião Pública sem lugar

O poder é um polvo omnipresente. Vejamos o caso dos chamados “programas de opinião pública” que, na verdade, tendem a não o ser.

 
Na rádio e na televisão, prometem reunir condições de verdadeiro diálogo democrático entre actores formais e informais da sociedade, mas concedem, inúmeras vezes, mais tempo de antena a figuras de destaque (em especial às da área da política) do que ao cidadão comum. Pior, quem trabalha no campo dos (grandes) média parece não se aperceber de nada disto. Todos os mecanismos de reforço da hierarquia estabelecida foram normalizados. Logo, esta situação parece aos olhos de muitos perfeitamente natural. Este género de programas é só uma resposta à crescente possibilidade (que se vem transformando em necessidade) de um não jornalista produzir e transmitir conteúdos informativos. Não há sequer possibilidade de discussão entre os intervenientes. É poeira para os olhos da democracia. “Somos média, temos responsabilidade social e é nesse sentido que promovemos o exercício esclarecido da cidadania”.


© Lucy McLauchlan & Matt Watkins

Há pouco tempo, analisei, juntamente com alguns colegas, o caso específico do Fórum TSF. Deixo aqui algumas das conclusões:
 
O Fórum TSF é um espaço de discussão aberto ao público em geral, pelo que se pode dizer que, de certa forma, neste programa, o público também é produtor de conteúdos. Carpienter descreve este conceito de programa como resultado de uma orientação dos média para o público e para a comunidade. (Carpentier, 2002: 101) A estação radiofónica é parte da comunidade, quer enquanto meio de comunicação social, quer pelo facto de os seus profissionais pertencerem a essa mesma comunidade, e deve, por conseguinte, servi-la e encorajar a prática da democracia no seu seio.

 
No entanto, os próprios jornalistas que conduzem o programa tendem a interagir mais com personalidades conhecidas do que com o cidadão comum, procurando esclarecer os juízos que elas emitem ou questionando-as sobre outros pontos da questão em debate, coisa que não acontece com todos os participantes. O cidadão comum, geralmente, tem apenas direito a uma recuperação do que disse e não a um diálogo mais aprofundado com o jornalista de modo a clarificar a sua posição. “Mesmo nas experiências participativas consideradas bem sucedidas, parecem existir questões de poder” (Padilla et al, 2007: 13)

A participação dos cidadãos é sempre reduzida e controlada. Mesmo a escolha dos temas do Fórum não é submetida à apreciação do público, estando esta sempre relacionada com a actualidade informativa, que é definida de acordo com os valores-notícia da TSF.

Sociedade. civil, ainda temos muito que crescer, mas entretanto faz falta um programa que dê voz ao povo.

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