segunda-feira, 8 de abril de 2013

O certo é ter uma presidenta

"Presidenta". Esse vocábulo que parece viajar diretamente do Brasil para Portugal num avião fretado pela Rede Globo. Há quem pense que é uma palavra do português do Brasil popular desde que Dilma chegou à presidência, há quem pense que é um linguajar de feministas encabeçadas talvez por Pilar del Rio, que desde sempre exige que se refiram a ela como a "presidenta" da Fundação Saramago. Há quem nunca tenha pensado no assunto e não pertença ainda assim a nenhum destes dois grupos. Os mais atentos saberão que a pretensão de Pilar é mais que justa. "Presidenta" é uma palavra de português de Portugal desde o início do século XX, mas que por razões relativas à nossa história sócio-cultural foi sempre de raro uso.
"Não sabemos ao certo desde quando é que este registo lexicográfico é feito, mas a palavra constava já do Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo (1913) ou do Vocabulário Ortográfico e Remissivo da Língua Portuguesa de Gonçalves Viana (1914)"Evitando cair em extremismos (portanto, não negando a legitimidade do uso de 'presidente' para os dois géneros porque prevista no dicionário), eu gosto da 'presidenta'. Dizer 'presidenta' faz-nos pensar em duas coisas: num tempo de desigualdade em que presidentes eram homens (convém que nos lembremos de não voltar lá) e na estranheza com que ainda se fala da mulher presidenta e da mulher noutros cargos e profissões outrora inacessíveis. A primeira mulher na presidência de não sei o quê é ainda circunstância para espanto, é inevitavelmente notícia, sinal de que ainda há um longo caminho que não fizemos. 'Presidenta' lembra-nos enfim que vivemos também hoje num tempo de desigualdade. Ou devia lembrar.
E com franqueza, este meu ponto de vista manter-se-ia mesmo que a palavra fosse um neologismo delirante do Novo Acordo.

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